6ª Edição - 2014

Empregado da CET - Crônica

Tema: Na copa e no trânsito ninguém ganha sozinho

1º lugar - Ana Paula Moreira dos Santos

2º lugar - Rosane Lima Cordeiro

3º lugar - Marisa Orsini Parra


1º lugar - Ana Paula Moreira dos Santos

TRÂNSITO e COPA, misturando sai o quê?

Dia de jogo. Bar lotado, todos ansiosos aguardando o início da competição. Preferimos chegar com antecedência e pegar um lugar bem na frente do telão. "Por favor, um sanduiche de copa, falou Antunes". "Copa? Vou de mortadela... no capricho."

Saímos mais cedo do trabalho, todos foram dispensados, afinal, Brasil joga hoje. Camiseta, boné, bandeira, tudo pronto. Só foi difícil decidir em qual carro ir. Serjão bem que tentou várias vezes implantar a tal da carona solidária. "É um absurdo, quatro pessoas, quatro carros, somos vizinhos, vamos revezar!" Nunca demos bola. Cada um sempre preferiu a sua comodidade, alegando desculpas. Hoje, tudo lotado, ninguém quer perder o jogo. Ficar rodando até achar uma vaga, é demais! Resolvemos experimentar: fomos em um carro só. Não é que deu certo! A volta foi melhor ainda, discutimos prós e contras do jogo e a escalação para a próxima partida.

O Brasil joga novamente. Já estava no bar antes do horário marcado, a saborear um bolinho de bacalhau e uma cerveja. O pessoal quando chegou ficou surpreso e perguntaram o porquê da minha atitude. "Não é nada demais, só porque deixei o carro em casa e vim de transporte coletivo, qual o problema? Vocês vivem reclamando do trânsito, que algo precisa ser feito. Pois é, fiz e vocês continuam reclamando. Vai entender!" Piorou quando falei que pretendia repetir a dose, pelo menos uma vez por semana e a companhia deles seria tudo de bom. Acharam que tinha abusado da bebida. Não liguei, pois aproveitei bem meu trajeto de ônibus para começar a ler o livro do Veríssimo que estava encostado.

Hoje no trabalho o comentário era um só: a prima do Thiago. Jovem, bonita e doidinha. Sofreu um acidente na volta da comemoração do jogo de ontem. Motivo, a combinação letal entre velocidade, álcool e imprudência, se não bastasse o motorista ainda estava falando ao celular. Pois é... A jovem passa bem apesar do braço fraturado, os demais passageiros do veículo estão bem... "quebrados". No nosso caso, o Bola ao terminar o jogo falou: "Deixa que eu dirijo, pois não bebi nada". Sábio Bola!

Final de copa. A casa da Dona Lourdes, mãe do Antunes, exibirá grandes emoções e nós degustaremos as deliciosas coxinhas que ela faz! Estamos sempre juntos os quatro amigos de longa data, desses que se pode contar de verdade. A casa dela é perto do trabalho, por isso aproveitamos para fazer uma boa caminhada. Cidade enfeitada, entusiasmo de um lado, manifestação de outro. Enquanto caminho observo o movimento da rua, o vai e vem apressado das pessoas que mal se olham e penso que realmente temos que criar outras soluções para os problemas do trânsito. Uma ação interessante foi iniciada nesta copa, pois agora temos um esquema de carona solidária para a empresa toda. Da minha parte, deixo meu carro em casa duas vezes por semana, o Serjão e o Antunes já aderiram, só falta o Bola. Alias, o Bola só tem "afinado", pois pegou gosto pela caminhada e três vezes por semana lá vai ele! O Filósofo ocidental tinha razão quando disse que o "segredo para a plenitude é compartilhar". Sócrates, Sócrates, vamos cara, o jogo vai começar. Melhor eu ir, eles só me chamam pelo nome quando estão irritados, no mais é só Dr, Dr, o apelido pegou mesmo. Estou confiante, podemos ganhar o jogo e outros mais para os quais a vida nos convocar. Começou!!! OH! Dona Lourdes e as coxinhas??!


2º lugar - Rosane Lima Cordeiro

"A TORCIDA DE DONA EDE"

Para dona Ede, o logo oficial da Copa representa pessoas heterogêneas, que sob um mesmo foco seguram com firmeza o símbolo de uma vitória, com o forte propósito de trazer alegrias a este povo tão carente de boas notícias.

Nos seus 85 anos de vida, percebeu e lamenta que a alegria de alguns pode ser a grande tristeza de outros; neste ano da festa do futebol, teme a displicência com que alguns irão demonstrar de forma irresponsável o seu estado de espírito, e atrás de um volante, com pneus berrando, vão explodir sua emoção pela vitória ou angústia, ignorando os gritos de alerta.

Dona Ede lembra que, quando o Brasil sediou a copa em 1950, alguns enraivecidos com a vitória do Uruguai, rasgavam as estreitas ruas, torturando a cidade no arrancar de seus potentes veículos, deixando cada pedestre à sua sorte, mesmo na proporção infinitamente inferior a hoje, quando São Paulo contava com apenas 1 veículo para cada 32 pessoas.

Cada esquina era temida por um inesperado choque entre veículos ou atropelamentos, embora algumas delas contassem com um equipamento revolucionário, instalado no bairro do Brás em 1932, batizado de semáforo, o que não era o caso da rua em que ela morava, e comemorava cada um dos 22 gols liderados por Ademir de Menezes, torneio em que a Seleção Brasileira mais marcou gols em toda a sua história; em alguns momentos, a alegria era bruscamente interrompida por uma tragédia encenada por condutores eufóricos e indisciplinados.

Dona Ede observa que demorou muito para que o poder público se convencesse de que SP precisava de uma empresa direcionada 24 horas aos problemas do trânsito, em benefício da segurança de pedestres e motoristas; diz que em 1976 a comunidade ficou esperançosa quando o então prefeito Olavo Egydio anunciou a criação da CET, destinada a administrar de forma imparcial as necessidades de ir e vir de uma população com interesses tão diversificados, como este evento tão grandioso da Copa.

Otimista, dona Ede diz que vai vibrar novamente com cada gol de nossa nova Seleção Brasileira, e torcer para que cada um neste país seja responsável em sua alegria, esteja ele sobre os próprios pés, sobre duas ou quatro rodas, pois na copa e no trânsito ninguém ganha sozinho!


3º lugar - Marisa Orsini Parra

"Alguma coisa acontece no meu coração, quando cruzo a Ipiranga com a Av. São João"

Não eram nem 5h da manhã e Pedro já estava de saída para o trabalho. Pedro era agente de trânsito, um "marronzinho", como os paulistanos gostam de chamar. Seu posto de trabalho ficava no famoso cruzamento da Av. São João com Ipiranga. Pedro era palmeirense, daqueles bem apaixonados por futebol: o time podia perder, o time podia ganhar... Pedro torcia sempre. De certa forma, sua paixão pelo futebol refletia sua personalidade. Nem sempre Pedro era reconhecido em seu trabalho, às vezes era até desrespeitado no trânsito. Mas nem por isso Pedro se deixava abater: acordava cedo todas as manhãs, vestia seu uniforme e partia para o trabalho. Mas naquele dia, antes de vestir seu uniforme, vestiu por baixo a camisa da seleção. Afinal, aquele era um dia especial, era dia de jogo do Brasil.

Renato era um executivo importante de uma grande empresa no centro comercial de São Paulo. Passava todos os dias apressado pela Av. São João, quase sempre desrespeitando alguma regra de trânsito. Renato era corinthiano roxo. Era também o típico paulistano estressado. Mas naquele dia, antes de sair apressado, Renato se lembrou de vestir, por baixo de seus trajes elegantes de trabalho, uma camisa da seleção. Afinal, aquele era um dia especial, era dia de jogo do Brasil.

Pedro e Renato, apesar de parecerem tão diferentes, tinham muito em comum. E eles estavam prestes a perceber isso. Os dois se cruzavam todos os dias, mas nunca tinham se notado. E exatamente naquele dia, às 6h34 da manhã, Renato e Pedro passavam pelo mesmo cruzamento quando uma chuva muito forte começou, fazendo com que o sistema de energia da região caísse. Imediatamente, o semáforo da avenida parou de funcionar. Pedro, prontamente, correu para organizar o trânsito. Renato, por sua vez, já estava nervoso dentro de seu carro por causa do semáforo quebrado. No entanto, ao se ver obrigado a dirigir devagar, percebeu o esforço do Pedro lá fora na organização do tráfego. E, nesse momento, os dois se notaram. Torcedores de times rivais, com realidades tão diferentes, eles notaram que vestiam a mesma camisa, a camisa do Brasil.

Foi então que Renato percebeu que precisava do trabalho de Pedro para chegar ao seu trabalho. Foi assim que, minutos depois do ocorrido, Renato passou pelo cruzamento onde estava Pedro e disse a ele "muito obrigado". Aquele era mesmo um dia especial. No entanto, o dia não foi especial apenas por ser dia de jogo do Brasil. Foi especial porque duas pessoas, que nunca haviam se notado, perceberam que dependiam uma da outra para realizarem as tarefas mais básicas do dia-a-dia, como chegar ao trabalho e serem reconhecidas. Elas perceberam que ninguém ganha sozinho, nem na Copa, nem no trânsito, nem em nenhuma situação.

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