9ª Edição - 2017
Terceira Idade - Crônica
Tema: Com uma vida mais sustentável, melhoramos o trânsito?
1º lugar - SUELY TIBURCIO MAIA
2º lugar - MARIA HELENA BERLINCK MARTINS
3º lugar - DIMAS TEMPLE
1º lugar - SUELY TIBURCIO MAIA
Divagações em um dia de chuva
Ruidosa, como se pedisse socorro, a garrafa plástica desce a rua, levada pela enxurrada. Apesar da lembrança dos barquinhos de papel que enfeitaram minha infância, penso imediatamente no bueiro onde ela irá repousar, junto com tantos outros detritos e no alagamento que resultará desse acúmulo. O trânsito interrompido, as casas invadidas pela água, a energia elétrica cortada por precaução... Pronto! Um pequeno descuido de um cidadão e o transtorno já aconteceu.
Felizmente, nesse momento, passa diante de casa o ciclista que diariamente sobe a rua em direção ao trabalho. Hoje ele não teve tempo de me acenar, mas lá vai, todo molhado, quase ofegante pelo esforço da subida. Certamente é o tipo de pessoa que busca alternativas sustentáveis para sua vida na cidade. Até emagreceu uns quilinhos nos últimos meses. E ele representa um carro a menos no congestionamento ou uma pessoa a menos a se comprimir dentro dos ônibus.
Graças a ele começo a me lembrar de várias outras pessoas que, com criatividade e companheirismo, tem buscado maneiras de conviver com o tráfego da metrópole sem se deixar engolir por ele.
São pequenas escolhas individuais que fazem a diferença para o trânsito da cidade e para a qualidade de vida de cada um. Pesquisar rotas alternativas para evitar grandes corredores sempre superlotados; partilhar o carro com colegas de trabalho, através da carona solidária; organizar rodízios de mães para buscar as crianças na escola; encarar o transporte público uma ou duas vezes por semana, deixando o carro na garagem; freqüentar cursos ou eventos culturais nos horários de pico, aguardando a liberação do fluxo de veículos.
E as vantagens dessas pequenas mudanças são inquestionáveis: reduzem-se os quilômetros de congestionamento na cidade; as pessoas passam a conviver e interagir mais, de forma solidária e sustentável; a saúde melhora com a redução do estresse e da poluição; ganha-se tempo e qualidade de vida; o acervo cultural ou acadêmico das pessoas ganha impulso e a cidade evolui, conquistando cidadãos mais conscientes e participativos.
É sempre assim: as grandes mudanças começam a partir de pequenas atitudes, às vezes individuais.
Mas o temporal continua a cair, persistente e purificador... Um trovão me traz de volta à realidade encharcada diante de minha janela. Melhor eu conferir se a chuva não espalhou o lixo reciclável que eu estava separando no quintal....
2º lugar - MARIA HELENA BERLINCK MARTINS
Vi esta cidade crescer. Nasci aqui, na Maternidade São Paulo, Rua Frei Caneca, em 1945. Tenho fortes lembranças da cidade da minha infância. Morávamos na Rua Peixoto Gomide, em frente ao Parque Trianon, onde aprendi a andar de bicicleta. Brincávamos muito na rua. Meus irmãos e a turma do bairro sempre desafiavam o time do Dante Alighieri para uma pelada na rua, no final da tare. Eu ficava na calçada pegando as bolas. Nem sempre os jogos terminavam amigavelmente e era aquela correria para dentro de casa, batendo e trancando as portes, ficando sem folego, o coração batendo a milhão. Descia a Rua Peixoto Gomide com o carrinho de rolimã, vi a inauguração do Parque Ibirapuera, em 1954 (um barro só).
Ia para a escola de bonde, avenida 3, até a avenida Angélica. Logo, acabaram com os bondes e o mesmo trajeto do “Avenida 3” passou a ser feito por ônibus. Era uma cidade tranquila com poucos carros.
Íamos à “cidade” para fazer compras: Mappin, Rua Barão de Itapetininga, ou ir ao dentista e depois tomar chá.
Quando comecei a estudar na faculdade a cidade não era mais a mesma. Muitos carros, barulho. Trânsito caótico. Lembro-me de um militar que veio do Rio de Janeiro organizar o trânsito daqui. Foi então que aprendi a dirigir. Muito difícil. As ruas mudavam de mão da noite para o dia. Hoje temos mapas, aplicativos no celular que nos orientam. Naquela época, ou você conhecia a cidade ou tinha que perguntar. Valiosíssimos, pelas informações que prestavam, eram os motoristas de taxi, chamados, naquela época de chofer de praça.
Ficamos mais felizes com o crescimento da metrópole? Hoje não é mais possível morar num bairro, trabalhar em outro e buscar lazer numa outra área. A segmentação e a especialização do espaço urbano, a meu ver, aprofundam o desperdício e a intolerância. Realizamos muitos trajetos desnecessários e temos dificuldade em conviver com diferenças sociais e culturais.
Uma metrópole mais feliz e sustentável precisa ter inúmeros polos que tenham atividades mais diversificadas como locais de emprego, comércio, oportunidades de geração de renda, moradia, educação, saúde, diversão e lazer. O número de viagens e trajetos de veículos se reduziria produzindo um trânsito menor, melhor e com pessoas mais felizes.
3º lugar - DIMAS TEMPLE
Com uma vida mais sustentável, melhoramos o trânsito?
“O resultado do que fazemos, nos espera mais adiante”. Esse é um conselho passado de pais para filhos, transmitindo valores como Responsabilidade, Respeito e, atualmente, totalmente aderente ao contexto de posturas no trânsito e da Sustentabilidade ambiental e ecológica.
O primeiro aprendizado que recebi em relação a não jogar lixo no chão, ocorreu na minha infância, no dia que meu tio me deu um doce embrulhado em um papel celofane. Após desembrulhar o doce, inocentemente joguei o papel no chão, então ouvi minha mãe falar: - “Opa! Opa! Pegue o papel do chão e jogue no lixo. Mostre que você é um menino educado”. Obedeci imediatamente. Ouvi em seguida: - “Muito bem, filho! ”. Saí correndo para o quintal brincar com o meu cachorro, embaixo de um enorme pé de manga.
No decorrer dos anos, aprendi que jogar lixo na rua, além de ser uma atitude não civilizada, vai contra os valores de uma vida sustentável. O lixo jogado no chão, polui, entope os bueiros, esgotos e, consequentemente, provoca enchentes, afetando o trânsito e a nossa saúde, devido ao contato com animais e insetos vetores de doenças mortais.
Há mais de vinte anos, minha esposa e eu decidimos ter apenas um carro. Naquela época eu ainda não tinha consciência dos benefícios promovidos por uma “atitude sustentável”. Isso porque, menos veículos no trânsito contribuem para: a) redução de congestionamentos, que provoca aumento da queima de combustível e é um dos causadores de stress aos condutores; b) redução da poluição do ar que afeta o meio ambiente (chuva ácida), o clima (efeito estufa) e a saúde (doenças respiratórias em função da exposição aos gases emitidos pelos veículos).
Concluo que, com uma vida mais sustentável, melhoramos o trânsito, a qualidade de vida na Cidade e no Planeta. Vale salientar que requer atitudes sustentáveis no dia a dia, começando por cada um até chegar a um padrão global. Dessa forma garantiremos o presente e o futuro.