3ª Edição - 2011

Cidadão - História

Pessoa física com 18 anos ou mais.

Tema: Uma história de trânsito com pedestres.

1º Colocado - Júlio César do Espírito Santo Meloni

2º Colocado - Dionisio Jacob

3º Colocado - Rosana Regacin Barillaro


 1º Colocado - Júlio César do Espírito Santo Meloni

Um predileto passatempo

O passatempo predileto de Cadu era sem dúvida alguma admirar aquele vai e vem de sapatos e pernas, calças e vestidos, pessoas e automóveis. Se bem que esse seu passatempo há muito tempo já se tornara uma missão. No entanto, dentro de sua imaginação cheia de sorrisos e simpatia, Cadu preferia transformar o trânsito da cidade numa grande diversão.

Quando o cintilar das luzes dos semáforos lhe propiciavam um instante de atenção, Cadu, dando asas à fantasia que vagava por sua retina juvenil, ficava imaginando o significado das cores vermelha, amarela e verde. Se bem que Cadu não distinguia todo aquele brilho com tanta certeza.

E falando nisso, em fantasia, Cadu sempre tentava descobrir o que as faixas pintadas em branco no pavimento escuro realmente queriam dizer. Em seus pensamentos, insistia em desvendar porque enquanto os carros corriam acelerados, as crianças ficavam protegidas e de mãos dadas às suas mães aguardando o instante certo para fazerem dessas mesmas faixas, num estranho jogo de terceira dimensão, uma espécie de caminho seguro.

O que Cadu curtia de verdade, e que muitas vezes lhe parecia como uma voz a lhe chamar, era o assovio diferente vindo do meio daquele emaranhado de gente, fumaça e buzinas. Quando dava para espichar os olhos, conseguia visualizar o homem vestindo boné e um uniforme diferente que brilhava nos dias de sol. Era esse homem que soprava um objeto engraçado, era de lá que vinha aquele apito gostoso que lhe trazia um coquetel de boas sensações.

Não era raro alguém abrir-lhe um sorriso, Cadu adorava, todavia sabia bem que seu passatempo, há tempos transformara-se em ofício, e para nada dar errado usava sua ótima precisão quando a calçada se tornava meio-fio e este, asfalto.

Certa vez, um grupo de senhoras perfumadas e cheias de vida fez-lhe a maior festa. Elas, como todos ali naquelas ruas movimentadas, apesar de acostumadas com a correria cotidiana, sempre se atentavam a cada esquina, a cada barulho diferente, um moto apressada ou mesmo num outro obstáculo surgido à frente.

Cadu era um garoto muito inteligente, conseguia se animar mesmo em instantes de trabalho. Sua percepção sempre em alerta, sua linguona suada pendurada na boca em nenhum instante se cansavam. Ele realmente era um grande herói, pois sabia que de sua astúcia dependia a segurança da jovem Ana. Cadu tinha total consciência de que não podia dispersar ou perder o foco mesmo quando alguém mais atirado demonstrava vontade de fazer-lhe um cafuné em seu pelo dourado.

No meio de tantas pessoas, carros impacientes e o trânsito da metrópole, Cadu conseguia fazer de sua tarefa um passatempo bastante divertido. E Ana, claro, assim como qualquer pessoa comum, após suas caminhadas a passeio ou a trabalho, podendo ir e vir em segurança pelas ruas da cidade, nos ônibus coletivos, no metrô veloz, sempre amparada por seu fiel escudeiro, ao chegar em casa, segura e feliz, sabia bem recompensar seu grande amigo com muitos carinhos, agrados e acima de tudo o amor que envolve uma pessoa que transforma em seus, os olhos de seu cão-guia.

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 2º Colocado - Dionisio Jacob

Uma História de Pedestre

Ele saiu de casa com passinhos miúdos. Do alto dos seus oitenta e cinco anos, caminhava devagar e cuidadosamente, procurando desviar dos possíveis buracos na calçada. Uma queda nessa idade... É que acabara o remédio, Crestor 20mg, que ele precisava tomar todo dia para o colesterol.

Sua filha e seu genro não estavam em casa, assim como nenhum dos netos. E a farmácia ficava perto. É verdade que ele saia cada vez menos. A filha não gostava: uma queda nessa idade... A frase era repetida sempre. E já fora um grande caminhante em dias antigos, com suas pernas longas e passadas largas. Um andarilho! Chegou a dar uma esticada da Barra Funda até o Parque da Luz, pois havia perdido o dinheiro da condução do bonde! Outros tempos... Anos quarenta... Uma cidade mais tranquila.

Naquele passo curtinho, pé juntando com pé, ele chegou à esquina. E havia uma rua larga para atravessar. Procurou pela faixa de pedestre e se postou ali aguardando. Naquele ponto não havia semáforo. Ainda assim sabia que os carros parariam. Outro dia mesmo no telejornal da manhã tinha tido uma matéria sobre o assunto: a repórter disse bem claro que, na ausência de semáforo, os carros deviam parar para o pedestre. Ela entrevistara uns motoristas que fizeram aquela cara de quem estava ouvindo o assunto pela primeira vez.

Agora a coisa se repetia: alguém parava? As faixas estavam lá, pintadas de branco, bem claras para qualquer um ver. Ele permaneceu um tempo aguardando, vendo o fluxo incessante de carros passando, aquele mar de veículos. Sempre havia morado em São Paulo e conhecia bem o trânsito da cidade. Nos anos sessenta tinha comprado seu primeiro carro, um Gordini. Várias vezes havia ficado parado num congestionamento, na "hora do rush", lá pelas seis da tarde! Outros tempos... E o trânsito foi crescendo, década após década. Ele passou para outros carros, outras marcas, até que acabou parando de dirigir.

Aquele senhor era uma história viva da cidade, tinha visto a metrópole se agigantar aos poucos. E agora aquele trânsito! Não era possível comparar com o "seu tempo". Como podia caber tanto carro nas ruas? E nenhum deles, naquele momento, parecia se importar com a sua figura anciã, parado na esquina, perto da faixa, aguardando pacientemente a hora de atravessar para o outro lado.

Por que não paravam? Por que não sabiam dessa convenção, ou por que sua figura antiquada não produzia respeito? Era só atravessar a rua e pronto! Coisa que parecia simples anos atrás. E quando uma expressão de desânimo começou a toldar o seu rosto, o milagre aconteceu: uma mulher parou o carro antes da faixa para que ele pudesse parar. E tal gesto ousado recebeu o insulto de diversas buzinas atrás dela, todas nervosas com aquela audácia. Ainda assim não dava para atravessar, pois a rua larga possuía duas faixas para os veículos.

Nova surpresa: um homem em outro carro, talvez encorajado por ver um carro parado na faixa freou o seu. E o senhor pode, então, iniciar o trajeto aventuroso de uma guia para a outra. Outras pessoas aproveitaram aquela carona. Com passos mais jovens logo o ultrapassaram.

Foi aí que se iniciou a sinfonia das buzinas, uma cantilena infernal desenfreada, desesperada. Todas pareciam clamar sua impaciência, seus atrasos, suas urgências, suas ansiedades urbanas; a pressa eterna da cidade grande que nunca para. O buzinaço parecia indagar: por que haviam parado lá na frente se nem semáforo havia? Por que interromper o fluxo? Mas os valentes motoristas que haviam parado aguentaram a pressão, permitindo a passagem dos pedestres e, em especial, a daquele senhor que chegou afinal ao outro lado da calçada, são e salvo.

Ele ainda olhou para agradecer a gentileza da mulher e do homem que, num gesto heroico, pararam para que ele pudesse atravessar, mas os dois já estavam longe, seguidos pelos demais no tráfego agora desafogado. Com seus passos de tartaruga ele foi até a farmácia e comprou o seu remédio. Depois deu uma olhada na banca de jornal e tomou um café curto na padaria: era hora de retornar para casa.

Parou, então novamente na faixa de pedestres. Examinou, cheio de expectativa o volume de carros, suspirou e aguardou que a tarde revelasse novos heróis.

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 3º Colocado - Rosana Regacin Barillaro

Uma história de trânsito com Pedestre

Era uma vez... Era uma vez? Não, isso não é nada original. Este conto trás a história de um pedestre, que por sua vez tem total influência no trânsito e suas aventuras no mesmo.

Não é um príncipe, não é um boneco de madeira, não é um porquinho e nem lobo mau, é um cidadão comum, dos dias de 2011, na cidade de São Paulo, que acorda cedo como a maioria, se prepara para o dia e sai, seu nome? O chamemos de Zé a Pé.

Logo de cara, poluição, acudam os pulmões! Buzinas, acudam os tímpanos! Stress, acudam o estômago. Porém, o nosso pedestre acima, nascido e criado nesta cidade, mesmo diante desta loucura toda não pensa em deixar a cidade, pois ele pensa como muitos:

- Oh minha querida São Paulo - continuemos...

Zé a Pé chega em seu primeiro desafio, atravessar uma grande avenida para ir até o ponto onde pegará o ônibus com destino ao seu trabalho.

Parado esperando o bonequinho do outro lado ficar verde, ele repara nos carros passando, belos carros, raros aqueles que transportam mais de uma pessoa. Rostos sérios, atentos, sombrios, maquiados... Tem até aqueles rostos que insistem em falar no celular. O bonequinho ficou verde! Zé a Pé então atravessa, e mesmo o bonequinho a seu favor, ele atravessa desconfiado, atento aos carros parados ao seu lado e ao final da travessia, final feliz, Zé a Pé dirigisse ao ponto de ônibus.

Parado, no ponto, Zé a Pé continua a refletir sobre a participação das pessoas no trânsito, ele sabe que não é perfeito, que também erra, mas ele procura ser muito cauteloso no trânsito, porque ele sabe que um deslize pode ser mortal. Que bom seria se todos fossem iguais a Zé a Pé. Ali, parado, ele repara em diversos grupos papeando, novela, filme, Big Brother, política, notícias e ele pensa o quão bonito é a teoria das pessoas.

De longe, Zé avista seu ônibus, logo percebe que não é o único a esperar aquele ônibus, quando o ônibus para, é dada a largada para o embarque, o motorista pacientemente aguarda até que todos arrumem um lugarzinho para se "acomodar", vitória, Zé faz parte deles!

Durante a viagem, de pé é claro, pois Zé nem se ilude em arrumar um lugar para sentar, pois se nem os mais velhinhos conseguem, quem dirá o Zé, com seu porte de cidadão forte e de trabalhos pesados, enfim, segue Zé, observando as ruas e o comportamento dos pedestres e condutores por onde o ônibus passa, ele sai da Avenida Professor Luís Ignácio de Anhaia Melo com destino ao Terminal Parque Dom Pedro, no caminho se depara com pedestres aventureiros que insistem em atravessar quando o seu farol de referência encontra-se vermelho, motoristas que desrespeitam pedestres e até mesmo outros motoristas, ainda bem que existem pessoas pacientes ainda.

Zé tem os minutos contados para chegar ao seu destino, e de lá, seguirá a pé para o seu trabalho, pois gosta de caminhar e não está disposto a enfrentar outro desafio no dia, a menos que seja aquele de voltar para casa. Ainda no ônibus, que para em todos os pontos do itinerário, Zé observa cada passageiro que embarca no ônibus, gente de todas as idades e raças, algumas que desejam bom dia ao motorista, outras mais retraídas e como sempre aquelas que falam ao celular, a viagem é longa e Zé aproveita cada segundo, algumas árvores, artistas de farol, moradores de rua, animais e vendedores ambulantes, Zé fica feliz quando vê os pedestres interagindo e ajudando aqueles que necessitam de apoio para completar uma travessia.

A viagem segue rotineira, paradas para embarque, faróis, trânsito e pedestres até chegar ao Terminal, o desespero dos passageiros para serem de novo pedestres é grande, parece que há incêndio no ônibus, Zé é o último a descer. Caminhando pacientemente até o seu local de trabalho, onde ele se depara com outras pessoas como ele, com outras histórias de pedestre para contar, ele sabe, que as histórias de pedestres não são como as de pescador, e é assim todos os dias a rotina de Zé a Pé, sempre tranquilo, observador, cuidando do seu bem estar e dos seus nervos, assim, consequentemente ele sabe que estará sendo influente no trânsito, e mesmo vendo que nem todos os pedestres são assim respeitosos com trânsito ele não desanima, mesmo sabendo que é só uma gota no oceano, ele sabe que se um tropeçar muitos caem, Zé a Pé também tem seus impasses e problemas, existem dias em que ele está menos disposto, só que quando bate esta indisposição ele se recorda de que muitos gostariam de ser como ele, poder levantar-se pela manhã, participar do trânsito e chegar ao seu trabalho, muitos não tem um trabalho, e Zé, aguarda ansioso o momento da volta para casa, o seu descanso noturno, para acordar num novo dia, ser pedestre novamente, influente, e ter novas histórias para contar.

E ele deixa uma mensagem: "Se todos fizerem a sua parte, muitas vidas serão poupadas, muitas discussões evitadas, responsabilidade no trânsito, um pedestre, um super poder, o de preservar vidas".

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