3ª Edição - 2011

Terceira Idade - Crônica

Pessoas com 60 anos ou mais.

Tema: Meu caminhar pela cidade: reflexões de um pedestre.

1º Colocado - José Gabriel do Nascimento Filho

2º Colocado - Cleusa Steffen

3º Colocado - Vicente Riva Funicelli

 


 

 1º Colocado - José Gabriel do Nascimento Filho

Meu caminhar pela cidade: Reflexões de um pedestre

Caminhar! Estou viciado em caminhadas. Descobri meio que por acaso, através do conselho de um sobrinho. Nunca fui fã de andar. Sol, chuva, buracos na calçada, cachorros correndo atrás de mim e tempo! Por que ir à padaria a pé e gastar 20 minutos se eu posso ir de carro? Com essa história de aquecimento global, tem dia que às 9h00 já está com 30°C, assim a mortadela vai estragar até eu chegar em casa. Pois bem, perguntei ao meu sobrinho o que ele pretendia fazer quando ficasse mais velho:

- Não sei tio! Estou pensando quando faço caminhadas.

Caminhadas? O esporte preferido do meu sobrinho era o vídeo game.

- É muito bom tio, é um momento que uso para refletir. Penso na vida e ainda me exercito. Experimente fazer o mesmo, quem sabe você perde a barriga!

Fiquei com isso na cabeça, pensar na vida e ainda agradar a patroa. Sempre ando apressado com tudo. No dia seguinte, comprei um tênis, focinheira para o cachorro - não iria sofrer sozinho - e lá fui caminhar pelas ruas. Confesso que num primeiro momento pareceu estranho: eu comigo mesmo. Não sei o que pensar! Me senti com um QI de um protozoário. Que tal observar então? Boa idéia! Comecei a observar os passarinhos nas árvores, nunca tinha prestado atenção nisso antes. E as pessoas que iniciam amizade porque o seu cachorro gostou da cachorrinha que passou ao lado? Enfim, quando dei por mim, eu estava andando diariamente e fazendo planos de coisas que eu gostaria de fazer. Até nos dias com chuva, lá ia eu com a minha capa pensar na vida. O pior para caminhar na rua não é a chuva, o frio, são os motoristas que não respeitam a faixa de pedestres! Como posso caminhar tranquilamente se ao pisar na faixa, eles além de não pararem, passam nas poças de água para me molhar?!

A faixa de pedestres precisa ser respeitada por todos. Não só os motoristas, eu mesmo faço questão de atravessar na faixa e nos tempos de motorista contumaz - quem diria - sempre respeitei. Agora que eu sou pedestre "profissional", mais ainda. O pedestre é indefeso, quem está de carro precisa ter essa consciência. Comecei a pensar sobre isso nas minhas caminhadas, com as minhas andanças, estou até ficando mais inteligente, deve ser oxigenação no cérebro. Até a patroa elogiou:

- Você não tem mais me derrubado da cama com a sua barriga.

Pensei em algo para conscientizar os motoristas, enviei um e-mail para a CET solicitando a colocação de faixas informativas nos principais cruzamentos. Assim muita gente lê.

E não é que deu certo? Colocaram as faixas aqui pertinho de casa. Estou caminhando mais sossegado. Estou feliz com as caminhadas. No quê vou pensar agora? Ahhh! Esses motociclistas... 


2º Colocado - Cleusa Steffen

Meu caminhar pela cidade: reflexões de um pedestre

Mal o sol ilumina a cidade já me apresso no meu caminhar, o carro fica na garagem, pois resolvi que andar só agrega saúde ao meu bem estar, descubro locais, pessoas que passavam despercebidas quando saio para trabalhar, passear, ou compromissos assumidos a realizar.

O trânsito anda muito congestionado, motivo pelo qual evito grandes avenidas, encurtando caminhos por ruas pouco movimentadas, onde admiro as árvores, flores, crianças saindo apressadas para a escola chegar no horário.

As calçadas conspiram um pouco, parecem até inimigas, pois obstáculos e mais obstáculos fazem o caminhar dificultar, mas esgueiro-me entre eles com um sorriso no olhar, pois venço o desafio de por elas passar.

Carros estacionados em locais inconvenientes me fazem perder a razão, pois alguns indivíduos que parecem não se importar em estorvar os que ali transitam a pé numa falta de consideração.

A cidade passa apressada, ou será eu que ando mais estimulada e a passos largos busco chegar mais acelerada.

E pelo caminho vou admirando as novas construções e as casas que estão reformando, aproveito e peço cartões dos servidores, os quais vou colecionando, um arquivo de informações arquivadas, prontas para serem utilizadas quando delas lançar mão.

Folhas caem das árvores num lindo ritual, desvio dos pássaros que assustados alçam o céu, o único lugar ainda não congestionado, alguns dias azulados, mas em certos também acinzentados pela poluição, que alguns veículos lançam por estarem desregulados numa falta de respeito para com a natureza que me trás tanta beleza.

Se eu pudesse voar, chegaria mais ligeira, mas o caminhar é o que me renova, me deixa inteira, cumprimento da senhora até o carteiro que parece andar cada dia mais ligeiro.

Repentinamente a sirene de uma ambulância, parece que muitos motoristas não escutam, pois teimam em não ceder um centímetro para que ela passe e seu destino alcance dando à vida mais uma chance.

Vejo nosso amigo marronzinho também atento ao serviço, tentando organizar o trânsito para que não vire um reboliço.

E lá vou eu acelerando meus sonhos, pisando no freio dos fracassos, dando ré nas minhas decepções, aumentando a velocidade das informações.

Um resumo do meu caminhar por esta cidade onde a beleza aflora e como magia a insegurança de andar a pé por esta cidade vai embora, o sonho que tudo transforme-se em esperança de um local com trânsito organizado, cidadão conscientizado que com sua colaboração, a paz sempre irá reinar em seu próprio benefício e do local que escolheu para morar. 


3º Colocado - Vicente Riva Funicelli

Os pés pelos caminhos da vida

 Ocasiões especiais revelam oportunidades de refletir sobre rumos e desafios. Outro dia, pensava nas trilhas por mim percorridas pela cidade. Grandes sapatos calçaram estes pés e eles, pés e sapatos, já sofreram um bocado ao longo da vida.

No princípio da carreira de pedestre, um grave acidente. Ao retornar para casa proveniente da escola, calçados em punho para proporcionar mais conforto aos pés de cinco anos de idade, pisoteio o pó da serragem ainda em brasa despejada por uma serralheria pelas calçadas da travessa da Rua Coriolano, bairro da Lapa. O que me valeu internação, broncas e carinhos de meus pais, repouso de um mês sem se quer tocar o chão e marcas nas solas dos pés que carrego até hoje, sessenta e um anos após este evento.

Compreendi que sapatos vestem melhor os pés do que as mãos. Recuperado, dei segmento à carreira de pedestre, equipado com sandálias novas.

Com elas, percorri as ruas ao redor de minha casa. Estava no bairro da Vila Diva. Lá pelos nove anos, meu dever e prazer era ajudar meu pai. Comparecia à fila da padaria na Avenida Sapopemba, e aguardava papai retornar da barbearia e levarmos para casa o pão de cada dia.

Logo mudamos de bairro. Fomos para Mooca. As ruas Madre de Deus e a Avenida Paes de Barros eram a extensão do quintal de casa. Meu jardim era formado pelas árvores que cercavam o reservatório da Sabesp, responsável pelo abastecimento de água da cidade.

Aos onze anos, estava prestes a iniciar a vida como engraxate. Papai, alfaiate, porém, não deixou. "Você é novo para lustrar o caminho dos outros. Deve estudar para iluminar seu próprio caminho".

Como eram sábias suas palavras. Aos treze, as sandálias de tiras cedem lugar aos sapatos fechados, necessários ao desempenho das funções de contínuo em escritório. O pensamento do jovem da Mooca agora seguia pelas ruas do fervilhante centro da cidade, pavimentando o futuro.

Quatro anos se passaram. Surgem novos calçados. Os coturnos da Sétima Companhia do Exército. Até pensei em seguir carreira militar. Mas, no ano de 1966, isso significava compactuar com a ditadura então recém instalada no país. Decidi que não seguir a Academia seria minha firme e silenciosa contribuição ao combate contra o regime militar.

Um ano depois, saem de cena para sempre os coturnos, e adentram aos palcos os sapatos, triunfantes. Junto aos ternos, gravatas e pastas, percorriam bondes e calçadas do centro novamente, na nova rotina de representante comercial.

Aos fins de semana, os pés e sapatos desfrutavam momentos de lazer nas sessões de cinema do Cine Universo, na Avenida Celso Garcia. Seu teto se abria e proporcionava aos expectadores o espetáculo do céu estrelado que envolvia a todos. Cenário perfeito para embalar os sonhos e as reflexões do jovem adulto.

E o futuro, como sempre, chegou sem aviso. Abri os olhos e esposa, filhos e trabalho me ladeavam. Retomei os estudos universitários e concluí as faculdades de Administração de Empresas, Ciências e Matemática.

Os pés já estavam acostumados aos mais variados tipos de terreno. Agora, não só as calçadas do centro. Com leves toques em pedais, visitavam as recém inauguradas Avenidas Radial Leste e Marginal Tiete. E ainda pensava: como seria meu futuro daqui a trinta anos?

Os filhos cresceram e ganharam o mundo. A aposentadoria chegou e os cuidados com a saúde aumentaram. E descobri um calçado novo, ao qual fora apresentado, mas ainda não era tão próximo: um par de tênis.

Em pouco tempo, viramos amigos íntimos. Retomei a carreira de pedestre com entusiasmo. Os parques da Mooca, do Piqueri e do Ibirapuera viraram as passarelas de uma rotina feliz e saudável.

Até que me encontro aqui, diante de um sapato novo e lustroso, treinando para pisar pela segunda vez em um tapete vermelho, agora para acompanhar minha filha ao altar e torcer por sua felicidade na estrada da vida que começará a percorrer.

A mesma estrada que meus pés percorrem felizes a quase quarenta anos. E que venham novos caminhos!

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