4ª Edição - 2012

Empregado da CET - Crônica

Tema: Compartilhar a via pública com segurança: missão de todos.

1º lugar - Ana Maria Kind Vitorino

2º lugar - Cristina Manzano Pini

3º lugar - Wagner Momesso


 

1º lugar - Ana Maria Kind Vitorino 

Compartilhar a via pública com segurança: missão de todos 

João é pai de família, corintiano de coração e orgulhoso por sua profissão de mecânico. Diariamente, percorre um longo trajeto para chegar ao trabalho mas, não se queixa de sua rotina. Mostra-se disposto e é um dos primeiros a chegar.

Por morar longe resolveu utilizar outros meios de locomoção que não o automóvel. Vai de bicicleta de casa até a estação de trem, deixando-a no bicicletário. Embarca no trem, grande parte do tempo de viagem é feita sobre os trilhos. Pensa que ele já chegou ainda não. Ao desembargar ainda caminha uns bons quinze minutos à pé quando finalmente chega e a volta para casa não é diferente, somente o inverso.

Tal rotina permite ter uma excelente saúde e livrar-se daqueles quilinhos a mais que insistem em aparecer, bem como, enfrentar alguns desafios e também tirar lições dessa convivência. Relata os acontecimentos diários do ir e vir heróico aos colegas de trabalho que ouvem atentamente.

Como todos constata que a cidade cresceu e que busca pelo espaço escasso é intensa e acirrada em certos momentos. Percebe também que a maneira como cada um participa nessa convivência pode intensificar ou amenizar os conflitos e problemas decorrentes no trânsito.

Adota atitudes pacíficas pois entende que esse é o caminho para lidar com os conflitos. Aprendeu na prática que respeito, gentileza e cuidado com outro, mesmo que seja um desconhecido, resulta na boa convivência.

Observa que quando o convívio não representa uma ameaça as pessoas se sentem seguras e assim oferecem o seu melhor, mesmo em um simples deslocamento.

João fica mesmo satisfeito quando termina a manutenção das viaturas pois sabe que seus colegas contam com elas para o trabalho no trânsito. Da oficina ouve-se a voz do João: VTR pronta pro batente! Fica também muito satisfeito quando o Timão ganha é claro.


2º lugar - Cristina Manzano Pini 

Um estranho dia na vida de uma pessoa comum 

Acordou naquela manhã atrasada como sempre, escovou os dentes, engoliu uma xícara de leite com café instantâneo, vestiu sua roupa de alta executiva e desejou ardentemente chegar rápido ao seu trabalho, sem nenhum empecilho em seu trajeto. Estava com seus 39 anos, era uma pessoa estressada, que sempre buscava os melhores resultados e não tinha a menor paciência para compartilhar espaços no trânsito.

Saiu da garagem e estranhou a facilidade para ganhar a rua, que estava deliciosamente vazia, nenhum pedestre querendo atravessar nas faixas, nenhum ônibus para fechar sua frente, nenhuma moto buzinando nos corredores e, pasmem, nenhum carro, nem ao seu lado, nem colado em sua traseira.

No início sentiu uma sensação de liberdade maravilhosa e pisou o pé no acelerador, mas passados alguns instantes foi tragada por uma angústia funda: Onde estariam todos? Teria a terra sofrido um ataque de extraterrestres ou um desastre nuclear e toda a população estaria em um abrigo? O mundo tinha se acabado e ela teria sido a última a ser avisada? Os terroristas estariam em tocaias e as pessoas temerosas fechadas em casa?

Chegou à Avenida Paulista, ninguém, nem nos postos, nem nas calçadas, nem nos bares, nem nos shoppings centers, nem nos cinemas, nem nas empresas.

Desejou ardentemente ver mães levando seus filhos nas escolas, pessoas nos mercados, gente se apinhando em coletivos , bicicletas tímidas pedindo um pouco de espaço, sentiu falta até dos zunidos das motos e de alguns poucos carros circulando.

Entrou em desespero, pensou que se a cidade voltasse a ter seus sonhos e suas cores, seus risos e suas mazelas, ela poderia até mesmo ser mais paciente, dar passagem aos pedestres, tentar outros meios de transporte, se divertir mais, trabalhar menos.

Mas, afinal porque estava indo ao seu trabalho se nem seu chefe, nem seus subalternos estariam lá? Se não haveria ninguém para cobrar resultados ou criticar seu desempenho? 

Deu meia volta e rapidamente voltou a sua casa, entrou na garagem com seu controle remoto, pois o porteiro não estava lá, subiu o elevador e se jogou na cama, exausta, dormiu umas oito horas.

Quando despertou o sol já estava alto, ela ouviu alguns pássaros cantando, um leve burburinho de crianças e uma deliciosa freada de ônibus. Decidiu que aquele dia iria ao trabalho a pé e de metrô, usufruindo de toda a confusão daquela cidade que tanto amava.


3º lugar - Wagner Momesso

O dia em que as pessoas se importaram

A manhã amanheceu fria, cinza e chuvosa, e justo nesse dia eu tinha marcado meu dentista no bairro de Moema, -quem mandou arrumar dentista longe-. Bem, eu moro no centro de São Paulo, melhor dizendo, na República.

Saindo do meu prédio cruzei com uma entrada de veículos, o motorista ao volante embicando o automóvel para entrar, estava carrancudo, e eu na calçada, desconfiado. Nos olhamos por um momento, e de-repente o motorista sorriu ao volante e deu sinal para eu passar. Cumprimentei-o, sorri e segui em frente satisfeito com nosso encontro.

Chegando a avenida São Luís o trânsito estava caótico, a chuva fina e fria e o ponto cheio de pessoas com seus guarda-chuvas esperando pelos ônibus. Ali tomei o 2290-10 com lotação total. Um senhorzinho e sua bengala tomaram o ônibus comigo e gentilmente cedo passagem a ele que me retribui sorrindo. Todos os assentos estão ocupados. Um rapaz com seu estilo ousado de rapper se levanta gentilmente e cede o lugar ao senhor com sua bengala. Senti-me feliz pelo jovem e pelo senhor que poderia viajar descansando suas pernas exaustas pelos anos.

No corredor do ônibus todos os passageiros de pé levavam suas mochilas nas mãos e facilitavam a passagem. Algo dentro de mim explodiu em otimismo com todas as pessoas; elas notavam-se umas as outras e se importavam. Pela primeira vez em anos não estavam competindo desesperadas.

Dois pontos a frente desço próximo a avenida Brigadeiro Luis Antonio com rua Maria Paula, o semáforo neste cruzamento estava apagado, mas incrível, os motoristas davam passagem uns aos outros e evitavam ao máximo fechar o cruzamento. Estavam sincronizados, olhavam ao lado e enxergavam ao redor os outros motoristas e os pedestres. O operador da CET apenas auxiliava, orientava e cumprimentava os motoristas. Os motoqueiros em -seus corredores- surgiam por trás dos ônibus com cautela, preocupando-se em não assustar os pedestres e protegendo a travessia deles.

Caminho até a avenida Vinte e Três de Maio e sob o viaduto Dona Paulina pego o 5370-10 em direção a avenida Ibirapuera e neste ônibus como no anterior as pessoas  importavam-se, davam passagem e carregavam as mochilas nas mãos.

O trânsito na avenida era lento devido a chuva fina e ao grande número de veículos. Súbito um veículo pára numa das faixas centrais. Imediatamente outro motorista e dois motoqueiros param e colocam o automóvel no canteiro largo e gramado da avenida. Em seguida uma viatura da CET encosta para prestar apoio ao motorista.

Pela janela via que tudo fluía. -Sim, estava lento pelas condições, mas muito seguro-. Os carros, as pessoas e os espaços se encaixavam harmoniosos. Entramos na avenida Ibirapuera, pessoas estão chegando aos seus trabalhos, bancos e lojas abrindo. Os ambulantes colocaram suas bancas junto às paredes nas calçadas e facilitavam a passagem dos pedestres.  Um motorista tenta parar em local que é proibido parar e estacionar, mas imediatamente vê a placa e sai, entra numa rua a direita e desembarca sua passageira sem atrapalhar a avenida. Ele percebeu que atrapalharia o fluxo; ele se importou.

Próximo ponto, shopping Ibirapuera, desci. Estava feliz com minha viagem. O mundo estava melhor naquele dia. Um sentimento de satisfação inundou meu ser, - é possível uma vida melhor, um trânsito melhor e seguro, basta que nos importemos-. 

CET PMSP-MobTrans

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